PESQUISA DE UX

Expectativa vs realidade da Carreira Internacional em UX—2020

Uma pesquisa para tentar diminuir o distanciamento e a idealização criados por quem mora no Brasil e sonha ter uma carreira no exterior.

Carreira Internacional em UX
9 min readMay 2, 2021
Ilustração do drawkit

Ter uma carreira internacional é um sonho distante para o brasileiro?

Muitos brasileiros hoje já constroem uma carreira internacional. Por outro lado esse sonho é compartilhado por centenas de outros profissionais da área de tecnologia que estão no Brasil, e percebemos que existe um grande abismo de incertezas e suposições que permeiam a mente de quem tem essa vontade mas acha difícil demais ou acha que é preciso sorte e acaba idealizando uma vida no exterior perfeita e inalcançável…

Com o propósito de entender melhor as verdades e mitos que rodeiam esse tema, através da comunidade do UX em Casa no Telegram, em outubro de 2020, formamos um grupo de quatro pessoas (Julia Nascimento, Ana Vieira, Natasha Lemos, Natasha Morello e Patrícia Mello). Juntas, começamos a pesquisar a fundo essa questão.

Para facilitar nossa pesquisa, optamos por focar no grupo de profissionais ao qual pertencemos: UX designers.

Quem está buscando esse sonho?

Pra começar precisávamos descobrir mais sobre nosso público alvo. Procuramos saber quem são, onde vivem, quais suas expectativas e as dificuldades que têm enfrentado e quais os seus objetivos com a migração de carreira para UX e de país. Pra isso mapeamos no Miro nosso objetivos nessa fase de descoberta:

O que queremos descobrir?

  • Quem são os designers que conseguiram trabalho no exterior?
  • Quem são os designers que querem ter uma carreira no exterior?
  • Onde buscam informações?
  • O que é necessário fazer para conseguir uma vaga fora do Brasil?
  • Quais as dificuldades que têm enfrentado?
  • Quais os seus objetivos para migrarem de carreira para UX e de país.
  • Como são os salários em outros países?
  • Quais países são mais procurados?
  • Que fontes de informação sobre isso existem hoje na internet?

Para conseguir estes dados fizemos uma Desk Research onde analisamos:

Fontes de pesquisa

Percebemos que, apesar de existir um variado material a respeito da migração de carreira e país, o conteúdo gratuito tende a ser bastante generalista.

Identificando perfis

Observamos ainda que algumas orientações repetiram-se em diversos materiais, o que nos ajudou a criar três perfis de pessoas com interesse no desenvolvimento de carreiras no exterior:

Perfil 1: Deseja iniciar a carreira em UX no exterior, mas ainda não sabe como;

Perfil 2: Já participa de processos seletivos de empresas do exterior, mas ainda tem algumas dúvidas sobre o assunto;

Perfil 3: Já atua como UX Designer no exterior (vivendo no país ou de forma remota).

Descobrir e estruturar melhor a Desk Research nos auxiliou na próxima etapa, que foi a pesquisa quantitativa, para isso utilizamos a Matriz CSD. Essa ferramenta nos ajudou a resumir e segmentar o conhecimento adquirido na Desk Research, destacando quais informações são relevantes para o projeto.

O que descobrimos a partir da Matriz CSD

As dúvidas e suposições foram nosso norte para desenvolvermos as perguntas que fariam parte dos questionários quantitativo e qualitativo (que será explicado mais a frente). Como certezas, o inglês, a networking e o uso do Linkedin se sobressaiu. Ainda tínhamos muitas dúvidas sobre cidadania, preconceito, visto e etc, o uso da matriz no ajudou a levar essas dúvidas para as entrevistas

Quem é o UX Designer Brasileiro?

Aprendendo com pesquisas anteriores

Após a Desk Research fizemos uma análise de pesquisas já realizadas entre 2015 e 2020 para descobrirmos se existia um padrão e o que mudou. O objetivo seria descobrir o perfil do UX Designer brasileiro buscando dados de pesquisas que já haviam sido feitas anteriormente e criar uma persona baseada nelas.

Como resultado elaboramos uma Persona que demonstra a figura do UX Designer ao longo desses anos:

Quem é o UX Designer brasileiro que busca uma carreira internacional?

Para aprofundar essa etapa decidimos fazer duas pesquisas, uma qualitativa e outra quantitativa. Através da matriz CSD definimos quais perguntas precisariam ser feitas.

Pesquisa Quantitativa

O tamanho da amostra foi definida com base na quantidade usuários que se intitulam profissionais em carreiras relacionadas ao UX Design no Linkedin no Brasil. Com base nessa pesquisa, utilizamos a calculadora da SurveyMonkey para definir o tamanho da amostra que precisaríamos e chegamos no objetivo de 370 respostas, para uma confiança de 95%. Tivemos 401 respostas, sendo 376 respostas dentro do perfil da pesquisa.

O resultado completo da Pesquisa Quantitativa você confere no link a seguir:

Dificuldades com ferramentas e criação de perguntas

Para o processo de analisar os dados coletados, tivemos dificuldades com as ferramentas gratuitas, pois não ofereciam as funcionalidades de que precisávamos. Tentamos automatizar o processo de leitura dos dados, mas no final acabamos fazendo manualmente no excel, porque era mais simples de entender e encontrar a informação que queríamos.

Também aprendemos que nessa fase não era muito bom ter usado perguntas abertas, e usamos muito no questionário, o que nos deu bastante trabalho para clusterizar.

Validação das nossas certezas, dúvidas e suposições

Após os resultados da pesquisa quantitativa, voltamos à matriz CSD para validá-la. Tivemos várias dúvidas e suposições que se tornaram certezas, como por exemplo: os perfis dos respondentes; o que almejam e quais são os profissionais que estão migrando para UX.

O espaço das dúvidas cresceu pois, após os resultados, apareceram alguns questionamentos mais específicos por perfil, que seriam utilizados como perguntas da pesquisa qualitativa na próxima etapa.

Matriz CSD feita revisada após as respostas obtidas na pesquisa quantitativa. Verdes: certezas | Roxos: suposições | Azuis: dúvidas.

Definição da persona

Com os resultados da pesquisa quantitativa somada à desk research, definimos melhor os 3 perfis: a sonhadora, a preparada e a Emily em Paris, cada uma trouxe características, objetivos e dores encontrados nos resultados das pesquisas.

Perfis de UX Designers que buscam uma carreira internacional (Ilustrações do drawkit)
Perfis de UX Designers que buscam uma carreira internacional (Ilustrações do drawkit)

Mapeando expectativas vs realidade

Para entender em profundidade a trajetória real das pessoas em cada perfil, assim como suas principais motivações, preocupações e dificuldades, usamos o método da pesquisa qualitativa. Aplicamos entrevistas em profundidade durante 6 semanas, com 25 pessoas, sendo 8 do perfil 1 e 2, e 9 do perfil 3.

Para esse processo, contamos com ajuda de mentores em 3 entrevistas para dar auxílio que foram os profissionais: Felipe Gonça, Rick Benetti e Cricia Silva.

Para conferir o roteiro de cada pesquisa, clique aqui.

Objetivos da Pesquisa com perfil 1 e 2:

  • Entender o comportamento e motivações das pessoas que querem ter uma Carreira Internacional;
  • Mapear o objetivo de carreira dos UX Designers que querem morar fora.
  • Entender as principais dores dos profissionais de UX que buscam uma carreira internacional;
  • Cruzar dados entre os perfis encontrados no recorte, o que estão planejando, (seus pensamentos e expectativas), o perfil que está em migração e o que já mora fora, para tentar trazer mais da realidade, mais verdade e histórias reais para essas pessoas.

Objetivo da Pesquisa com perfil 3:

  • Entender os comportamentos e decisões dos Designers que já estão atuando fora do Brasil;
  • Descrever suas expectativas vs realidade sobre a carreira internacional;
  • Mapear qual foi a jornada traçada para chegar onde estão;
  • Entender quais particularidades de suas jornadas fizeram diferença para sua carreira e porquê.

Mapeando as jornadas

Com as pesquisas de profundidade feitas, mapeamos a jornada de cada um dos perfis e buscamos conectar os sentimentos e ações em cada ponto e entender como eles se relacionam.

Jornada Carreira Internacional em UX
Jornada Carreira Internacional em UX

O que descobrimos?

Por que uma carreira internacional?

A maioria que quer ou conseguiu trabalho no exterior já teve alguma experiência de turismo ou intercâmbio fora ou/e foram influenciados por amigos que conseguiram um trabalho fora do país.

“Mais fácil migrar para um país que já conheci antes por meio de intercâmbio ou turismo”

Essa experiência de viajar pra conhecer o país antes, conhecer pessoas e a cultura local faz com que seja mais fácil migrar para esse país por não ser mais algo desconhecido, tudo parece ser relativamente mais fácil. E ao viajar pode fazer amigos no país e ter uma ponte para fazer networking.

A dica é: se puder visite o país que deseja migrar antes de ir de mala e cuia :)

Sobre dificuldades esperadas:

Quem ainda está no início da migração (perfil 1) para uma carreira internacional acredita que terá muitas dificuldades no decorrer do processo, enquanto quem já migrou (perfil 3) afirma que as dificuldades foram bem menores do que o esperado. Uma parte era sobre moradia e estabilidade financeira e outra sobre coisas do dia-a-dia como leis locais, mobilidade e vizinhança.

A escolha do país

Na fase inicial, a maioria escolhe o país porque acha que existe uma maior maturidade de design e maiores salários como Estados Unidos e Austrália por exemplo. Porém,

de acordo com os entrevistados da fase 3 que já migraram, a maturidade de design está mais relacionada com a empresa em si do que o país, assim como os salários.

Então, independente do país, sempre haverão empresas com mais e menos maturidade oferecendo salário altos e baixos.

Outro fato interessante é que por mais que o perfil 1 tenha uma tendência em planejar e ter expectativas de migrar para certos países específicos (especialmente países os quais espera-se ter uma maturidade maior de design),

a maior parte das pessoas do perfil 3 não escolheram exatamente os países em que foram morar, acabaram indo pra onde a proposta de trabalho os levou.

Sobre perdas

A maior perda seria da rede de apoio que tem no Brasil, formada pela família e amigos.

As pessoas que se pode contar em momentos de dificuldade;

Porém, mesmo assim, 100% das pessoas que já tem uma carreira internacional (perfil 3) não pretendem voltar pro Brasil.

Sobre o que esperam conseguir com uma carreira internacional.

Expectativas

Uma melhoria na qualidade de vida seguido por reconhecimento no mercado de trabalho.

Pontos que acreditam que precisam melhorar

Enquanto no perfil 1 a principal preocupação é com cursos e formações, no perfil 2 o foco é melhorar nas entrevistas e processos seletivos.

Particularidades das jornadas individuais que fizeram diferença para a carreira

  • Ter inglês avançado;
  • Entrar no país com visto de estudante;
  • Conhecer pessoas no país ou ter parentes no país;
  • Ter visitado o país antes;
  • Ter cidadania europeia;
  • Ter experiências avançadas em UX, dados, estatística, entre outros.

Como se planejam financeiramente

  • Vender bens para conseguir o dinheiro para cerca de 6 meses no país;
  • Juntar o valor que o país pede para entrada (cerca de 3mil€ em média que pode ser em limite de crédito) acrescido do valor para cobrir custos de pelo menos 3 meses (em média 1500€);
  • Pesquisar muito antes valores de aluguéis, supermercado e burocracias.

Conclusão

Não existe fórmula mágica, porém existe o “mexer os pauzinhos”

Passamos cerca de 6 meses debruçadas sobre esse tema, porque decidimos desde o início fazer no nosso tempo, escolhendo que método usar e ter tempo para aprender e para maturar as descobertas. Ao final aprendemos muito com todo o processo e com as pessoas que entrevistamos. Descobrimos como cada história é tão particular e que como todos sabem, não existem fórmula mágica, porém existem o “mexer os pauzinhos” para facilitar que as coisas aconteçam, afinal não ganha na loteria quem não compra bilhete não é mesmo?

Esperamos que essa pesquisa ajude a diminuir um pouco a idealização e o distanciamento que existe do sonho de ter uma carreira internacional em UX.

Um grande obrigada a todos que participaram da pesquisa, contribuíram, conversaram com a gente e aguardaram ansiosos os resultados.

Links Indicados pelos entrevistados

Informações sobre vida no exterior

https://www.eurodicas.com.br

https://www.e-dublin.com.br

https://medium.com/@CRMedeiros/8-respostas-para-o-que-você-não-perguntou-sobre-mudar-para-portugal-db9a66f41a7c

Preparação para carreira internacional

https://www.designcareer.co/#about

https://enterprise.gov.ie/en/What-We-Do/Workplace-and-Skills/Employment-Permits/Employment-Permit-Eligibility/Highly-Skilled-Eligible-Occupations-List/

https://medium.com/ladies-that-ux-br

Vagas:

Europa
https://www.xing.com/jobs

https://www.linkedin.com/

https://careers.un.org/

https://jobbland.se/

https://www.glassdoor.com/

https://www.net-empregos.com/

https://pt.indeed.com/

Bolsas de estudo

https://www.ceu.edu/

https://chevening.smartsimpleuk.com/

https://www.daad.org.br/

https://dclead.eu/

http://gestion.fundacioncarolina.es/

https://masteres.ugr.es/

https://www.humboldt-foundation.de/

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Tem algum dado que você gostaria que tivesse? Sentiu falta de algo? Estamos abertas a feedbacks!

Ana Vieira, Júlia Nascimento, Natasha Lemos, Natasha Morello e Patrícia Mello.

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Carreira Internacional em UX

Uma pesquisa que procura entender as dores da busca pela sonhada carreira internacional